quinta-feira, abril 18, 2013

Que trabalheira...

Entrevista ao meu Pai
Pergunta:
Há alguém da família que tenha estado na guerra colonial? Em que sítio?
Resposta:
Na nossa família apenas o teu tio avô António (o tio Nito), irmão da avó Teresa, esteve no serviço militar em Moçambique, entre meados de 1960 e 1962, mas isso foi antes de haver guerra nesta antiga colónia. Quando ele lá estava iniciou-se a guerra em Angola. Ele esteve colocado no norte de Moçambique, em Nampula, Mocimboa da Praia e Mueda, pertencia a um destacamento de engenharia e andou a construir pontes nessas zonas, que foram logo destruídas quando se iniciou a guerra.
Quando eu fui para a tropa, em outubro de 1974, portanto depois do 25 de abril, já não se previa ser mobilizado para África, porque estavam em curso negociações para a descolonização e independência das colónias, que então eram chamadas de provincias ultramarinas, terminando a presença de militares portugueses nesses países.
Pergunta:
Ele escrevia muitas vezes? Preocupavam-se quando o correio não chegava?
Resposta:
Recebíamos muitas cartas e era em família que elas eram lidas. Contavam como era viver lá tão longe em sítios tão diferentes. De vez em quando havia atrasos no correio e ficávamos um pouco preocupados, principalmente os pais dele.
Pergunta:
Quem eram as “madrinhas de guerra”?
Resposta:
As madrinhas de guerra eram umas senhoras voluntárias que se correspondiam com os militares para os manter animados e trocarem cartas onde podiam exprimir as suas preocupações e assim evitarem as depressões provocadas por viverem em situações de grande risco para a própria vida e terem que participar em combates, com muitas vítimas mortais e feridos das duas partes.
Pergunta:
Os jornais e a rádio davam muitas notícias da guerra? Já havia televisão?
Resposta:
Geralmente não havia notícias da guerra. Normalmente era uma pequena frase com as baixas (mortes) nos combates, e dizia-se que sempre em número muito inferior à realidade.
A televisão surgiu em 1957 e em meados dos anos 60 era normal haver programas pelo Natal, gravados nessas colónias, destinados às mensagens dos militares para as suas famílias, que eram sempre momentos muito tristes e de grande ansiedade.
Pergunta:
Lembram-se de algum episódio relacionado com a chegada ou a partida de militares para a guerra?
Resposta:
Quando o tio regressou de Moçambique em 1962, eu tinha 12 anos, viémos esperá-lo ao cais de Alcântara, porque ele vinha num navio. Foi a primeira vez que eu vim a Lisboa. Veio o carro do meu pai com os outros familiares e eu vim numa camioneta de caixa aberta para levar uns caixotes de madeira que ele trouxe com a sua bagagem e várias coisas que lá tinha comprado, incluindo artesanato. Algumas dessas peças ainda estão lá em nossa casa. A curiosidade é que chegámos a Lisboa ao fim do dia e dormimos essa noite dentro dos carros num jardim perto do cais, onde hoje são as Docas, regressando todos no dia seguinte.

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